*Espana*
*Tira teia de aranha*
*Coloca as cadeiras no lugar*
Ok. Estou sumida por alguns motivos. Trabalhando muito, escrevendo bem, redes sociais acabam sendo mais dinâmicas… e tem a minha dose de Dragon Age, né.
Mas não estou parada.
Tem mais uma coletânea saindo com um conto meu. E mais um conto ‘finisterriano’, dessa vez protagonizado pelo cronista que tem papel de destaque em Finisterra: Rui de Pina.
Assim como Olivier de La Marche, que aparece no ‘O primeiro dia de primavera’, Rui é um personagem histórico que sofreu um twist nas minhas mãos. Trabalhar com cronistas é bem interessante, falando como a historiadora que também sou. Mesmo quando escrevem ‘Memórias’ (caso do La Marche), eles pouco aparecem, sendo mais compiladores de fatos antigos ou testemunhas dos fatos contemporâneos do que personagens. Isso, claro, atrapalha o pesquisador, mas cria ótimas brechas para o escritor.
E foi nessas brechas que criei tanto o La Marche (servidor fiel, vindo da pequena nobreza, com um sentido de dever quase fatalista) quanto o Rui de Pina (um bom profissional, que gosta de refletir sobre o seu trabalho, mas que também é ambicioso e quer melhorar de vida) que vocês veem nos contos desse universo ficcional.
Fica para vocês um trecho do começo de ‘Venezia em chamas’, um diálogo entre Rui e seu pupilo, Pero (Vaz de Caminha, aquele).
Gostou? Quer ler mais desse conto clockpunk?
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– O que tem de tão especial em Venezia?
O sorriso do cronista foi tolerante, algo raro no seu relacionamento com o aprendiz.
– Muitas coisas, Pero. É uma das cidades mais estranhas que jamais conheci. Não é como Olissipona, Lutécia, Dijon ou Londres. Foi construída no meio de um lago, mas não como ilha. Suas construções emergem da água. Dizem que tritões construíram Venezia muitos séculos atrás, como um entreposto comercial do povo do Mar Interno conosco, humanos. Porém, se assim foi, as criaturas deixaram a cidade faz muitos e muitos anos, pois não há memória desse tempo.
– Não há ruas?
– Não há ruas, nem becos, nem vielas. Há pequenos braços de água salgada que separam edifícios e quadras e pontes ligando-os. Entre alguns edifícios, há pontes para que as pessoas atravessem, mas não é sempre que isso acontece.
Pero ficou em silêncio, tentando absorver todas as novidades que seu mestre lhe passava.
– Deve ser um lugar fascinante…
– E é. Sua configuração tão especial fez com que uma atividade muito distinta ali surgisse. Primeiro, que naquela cidade, a magia é proibida e muito malvista por todos. Chamar alguém de mago ou algo de mágico é uma das maiores ofensas. E por isso, muitas das soluções que em outras terras se dão com o uso da magia, lá se fazem com o que chamam de Mecânica. Constroem máquinas que imprimem livros e tecem tapetes, além dos mecanismos que se usam em festejos, pequenos autômatos que tocam instrumentos e dançam.
– Motivo estranho para tanta confusão e intriga.
Rui fechou a cara, contrariado. O garoto estava indo tão bem e de repente, falava uma sandice daquelas.
– Pero Vaz de Caminha, será que não pensa antes de falar? Claro está que não foi por autômatos simples ou por máquinas de tecer tapetes. O que interessa a todos no Continente é o que está por trás disso, o conhecimento, o saber construir essas coisas. E mais importante, interessa impedir que os que podem nos prejudicar tenham essas informações.