O que ando lendo – ‘Micrômegas’ de Voltaire

Acho que estou em fase francófila saudosista (me julguem), pois nesse começo de ano, peguei na estante outro autor francês clássico (isso depois de ter devorado ‘Le Chevalier Deliberée‘), que eu já conhecia, mas com uma obra mais falada do que lida: ‘Micrômegas’, publicado em 1752 e considerado por muitos um texto precursor da Ficção Científica.

 

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Acho que aqui cabe fazer uma pequena digressão. Não é um texto de Ficção Científica, mesmo levando em consideração o contexto científico da época. Voltaire não era nenhum ignorante das ‘Ciências Naturais’, sendo um conhecedor da obra de Isaac Newton, por exemplo. E isso aparece no texto, quando ele fala da disposição dos planetas e das galáxias, faz cálculos e comparações.

Porém, sua preocupação ali nada tinha a ver com a ciência, os astros, viagens interestelares. O filósofo usa a figura do alienigena que visita a Terra como alegoria, exemplificando os nossos problemas vistos pela ótica do outsider. O recurso é muito usado na literatura do século XVIII. Um exemplo? ‘As viagens de Gulliver’ de Jonathan Swift.

Se no texto do irlandês, um ser humano acaba indo parar em terras estranhas (com hábitos que servem de espelho exagerado para os da sociedade européia de então), Voltaire apresenta a viagem de dois alienígenas gigantescos e longa vida – um, o colossal Micrômegas, vem de fora do Sistema Solar, enquanto seu companheiro é de Saturno. Procurando por vida inteligente, acabam parando na Terra, que consideram um planetinha insignificante. E quase desistem da sua busca, quando encontra m um barco cheio de filósofos com quem travam um estranho debate. A mensagem do texto é da pequenez e mesquinharia da humanidade, que se prende nas suas guerras e diferenças.

A tradução está mediana, com algumas soluções complicadas, mas nada que comprometa o resultado final. O grande problema da  bela edição ilustrada da Autêntica, lançada ano passado, é a sua indecisão. Não consegue se decidir se é uma edição paradidática ou para leitores do cotidiano. Há notas de tradução bastante dispensáveis em edições comerciais, algumas com teor interpretativo. A introdução é rasa, acho que caberia chamar um especialista no tema para dar um pouco mais de profundidade.

Fica pela curiosidade de ter um texto de ‘FC’ de um dos maiores filósofos franceses do Iluminismo em uma edição com ilustrações bem pensadas.

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