Feliz aniversário, Biblioteca Nacional. Mas… comemorar o que?

Depois de longo e tenebroso inv(f)erno, minha conta no WordPress voltou a funcionar. O motivo alegado foi ‘quebra dos termos de uso’, porém não consegui descobrir exatamente o que foi que eu fiz. Como tá tudo normal por aqui e a conta voltou a funcionar, ninguém sabia.

E eu sei que todo mundo quer  ler o final das minhas aventuras no Canadá. Hoje a noite, eu pego no meu HD e mando pra vocês.

Neste momento, estou na Biblioteca Nacional, baixando umas atualizações de programas e fazendo fichas catalográficas. Então vou aproveitar e fazer um post comemorativo-reflexivo.

Afinal, hoje a maior biblioteca da América Latina – e uma das 10 maiores bibliotecas nacionais do mundo –  faz 199 anos de sua fundação em terras brasileiras.  Só que sua história vem de bem mais longe no tempo. Afinal, ela é herdeira da Real Biblioteca portuguesa, montada pelos reis lusos após o terremoto de Lisboa em 1755. Com a invasão napoleônica, a corte veio para a colônia trazendo os seus bens mais preciosos – entre eles, boa parte da coleção da Biblioteca. Livros de horas, incunabulos, mapas manuscritos – o acervo assim trazido tem um valor realmente incalculável. Uma boa leitura sobre esse caminho é o livro A longa viagem da biblioteca dos reis de Lilia Schwarcz.

A coleção foi crescendo na nova sede  – ou sedes, já que para chegar ao belíssimo edifício da Av. Rio Branco os livros passaram por vários outros prédios – por meio de compras e doações. Entre os ilustres e os anônimos que deixaram um legado para a fiel depositária da memória literária nacional, o mais importante e significativo foi com certeza nosso segundo e último Imperador. D. Pedro II, ao ser deposto, mal teve tempo de reunir sua família para embarcar em direção a Portugal. Seus papeis pessoais e sua impressionante coleção de documentos ficaram para trás. Em um ato de generosidade, encarregou pessoas de sua confiança para que, junto com representantes do recém-instalado regime republicano, separassem o que era pessoal/familiar. O restante deveria ser dividido entre três instituições, entre elas a Biblioteca Nacional. A única condição era de que os documentos ficassem agrupados com o nome da imperatriz, Teresa Cristina Maria.

A partir daí, os números só foram aumentando. Para chegar nos atuais 9 milhões de itens – e subindo – muito contribuiu a lei do Depósito Legal (apesar de muitos editores não a cumprirem), pela qual dois exemplares de toda a edição publicada no Brasil devem ser doados a B.N. para fazer parte do seu acervo.  Isso só confirma sua posição e sua importância como o principal acervo para o estudo da História da Literatura e da Imprensa no Brasil.

Além disso, é responsável pelo ProLer, programa de incentivo a leitura do Ministério da Cultura, pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, pelo Plano Nacional de Obras Raras, pela agência brasileira do ISBN e pelo Escritório de Direitos Autorais. Seus laboratórios de reprodução, encadernação, preservação e restauração são referência no Brasil. Seu catalogo pode ser pesquisado on-line e seus documentos estão gradativamente sendo digitalizados e colocados para consulta na internet.

Falando assim, dá impressão que nesses quase 200 anos temos mais que comemorar e festejar.

Ledo engano.

A Biblioteca está passando por um momento muito dificil.

A imensidão do seu acervo tornou o prédio-sede pequeno – os livros demoram a ser disponibilizados ao público simplesmente por falta de espaço nas estantes do setor de Obras Gerais. Documentos estão deteriorando por falta de preservação adequada. Não há dinheiro para manter os laboratórios trabalhando a todo o vapor. A Hemeroteca Brasileira, projeto ambicioso para disponibilizar de forma adequada o acervo de periodicos da B.N., está parado e o prédio destinado a isso virou um depósito de material fora de uso e exemplares duplicados. A falta de funcionários, desanimados pelos baixos salários, é crônica e mal disfarçada por terceirizados com pouco treinamento para as funções a serem exercidas. A situação física do prédio está bem complicada – as instalações elétricas estão no seu limite, há vazamentos e janelas que não fecham direito. O furto de peças é constante.

Nesses 199 anos, o maior presente que a sociedade brasileira poderia dar ao seu maior centro de memória cultural?

Atenção e respeito.

Cobrem dos seus governantes e dos seus representantes.

Se você é escritor, procure saber se a sua editora cumpre a lei do Depósito Legal. Se você é editor, cumpra-a.

Por mim, eu só posso dizer que apesar de tudo é uma honra poder vir todos os dias para um lugar no qual História do nosso país é a principal razão de existir.

 

Canadá, aí vou eu!:D

Bom, foi um periodo de muita ansiedade. Afinal, viajar sem lá muito dinheiro é sempre preocupante. E infelizmente, além disso nós brasileiros temos problemas para tirar vistos devido a grande quantidade de imigrantes ilegais.

Mas depois de 4 meses de preparação, hoje finalmente tenho tudo o que preciso: passagem, reserva de hotel e os dois vistos, o americano para trânsito e o canadense, de negócios. Então, apesar de já ter contado a muita gente e até ter colocado aqui no blog, hoje posso anunciar oficialmente que sem a menor sombra de dúvida estarei na Anticipation, a  67 a. WorldCon, que acontecerá em Montreal, no Canadá.

Por favor, reservemos uns instantes para os invejosos de plantão poderem rosnar um pouco sobre como eu escrevo mal e mesmo assim consigo atenção da mídia, participar de eventos e etc etc etc, seja lá o que eles ganhem com isso.

Pronto, já arrancaram os (poucos) cabelos? Posso continuar?

🙂

Bom, como eu quero aproveitar TUDO o que eu puder da convenção, me ofereci para participar  da programação oficial da WorldCOn- além disso, estarei fazendo um workshop para escritores, com parte do primeiro capítulo de Finisterra, e junto com as escritoras do Broad Universe na mesa, na festa e no ‘Rapid Fire Reading’.

Como agora está tudo certinho, vou liberar a minha ‘agenda’, com os dias e os temas dos paineis e mesas-redondas de que vou participar. Quanto a cobertura da convenção, prometo postar pelo menos de dois em dois dias, twittar o máximo que der e até mandar um podcast especial pro Papo na Estante. E fotos, fotos, fotos, fotos, claro!

Sexta, 07/08, 9:00

Por Olhos Fieis: como o cronista Olivier de La Marche construiu Carlos da Borgonha

Participantes:  Ana Cristina Campos Rodrigues

Sexta, 07/08, 14:00

Comida: Antiga, Moderna, Futura, Perto e Distante

Participantes:  Ana Cristina Campos Rodrigues, Cecilia Tan, Jon Courtenay Grimwood, Jon Singer, Richard Foss
Moderadora:  Cecilia Tan
Descrição: Podemos descrever mundos e culturas através da comida. A comida pode nos falar sobre rotas comerciais e tabus. A forma de servi-la pode nos dizer muito sobre a economia e a sociedade. A comida pode falar sobre o amor.

Sábado, 08/08 10:00

Dos Pireneus à Terra do Fogo: a FC em espanhol e português

Participantes:  Ana Cristina Campos Rodrigues, Thibaud Sallé, Jean-Pierre Laigle, Georges Bormand
Moderador:  Thibaud Sallé
Descrição:  Numerosos universos dentro da FC são escritos em espanhol e em português, na Europa e nas Ámericas. Venha saber mais.

Sábado, 08/08, 14:00

Fandons fora da América do Norte

Participantes:  Alon Ziv, Ana Cristina Campos Rodrigues, Carolina Gomez Lagerlof, Janice Gelb, Martin Hoare, Georges Bormand

Moderator:  Janice Gelb
Descrição: A FC é o nosso interesse em comum, mas como ela é celebrada em países como Russia, Australia, Israel, Brasil e Suecia?

Segunda, 10/08, 10:00

Imago Mundi Facticii: Um espelho enganador

Participantes:  Ada G. Palmer, Ana Cristina Campos Rodrigues, Thibaud Sallé, Anne-Isabelle François
Moderator:  Thibaud Sallé
Descrição:  Qual a relação entre a França Medieval e a fantasia? Os especialistas nos darão um veredito instrutivo.