Cartas aos jovens – Inve$$$tir na carreira de escritor

Olá, queridinhos da tia Ana.

A pergunta de hoje veio do formspring, um serviço interessante:

“po, sua escrota! vc fik flando mal das editora que publica estorias boas cmo Andross! eh recalque cm ctz! seus ctos saum ruim, aposto q foram recusadus! oq vc tem contraqm invezti na carreira?”

Vamos por um momento ignorar o homicidio doloso cometido contra a última flor do Lácio e nos concentrar na questão do investimento na carreira (de escritor).

A primeira coisa a ser dita é que pagar para publicar um conto em uma coletânea de qualidade duvidosa não é investimento. É egotrip.

E desculpem, mas é humanamente impossível fazer uma coleção de 50 contos de escritores amadores dispostos a qualquer coisa pra publicar ser boa. No máximo, regular – e até agora, não vi nenhuma.

Publicar o seu próprio livro? É um investimento? É, mas de alto risco. Para cada Eduardo Spohr e André Vianco, há dúzias que mal e mal consegue vender seus livros aos parentes, amigos e conhecidos. E centenas que ficam com encalhes eternos na garagem de casa.

O melhor investimento que um escritor pode fazer é em busca de seu aprimoramento profissional.

Isso se traduz em:

– Comprar livros de ficção para acompanhar o mercado editorial.
– Comprar livros sobre a profissão, em todos os seus aspectos. O Brasil ainda é fraco em livros nesse quesito, porém sempre dá para achar um.
– Custear a participação em eventos nos quais você possa entrar em contato com editores, escritores e leitores.
– Fazer cursos, oficinas, seminários. Você pode pensar que isso não existe, pelo menos não voltado à escrita. Bem, você está errado. Cursos e oficinas ligadas à escrita e literatura pululam por aí. O que você precisa é de discernimento para investir no lugar correto. Se você escreve Fantasia, não adianta pagar para participar de uma oficina com um escritor muito premiado mas que tenha preconceito com a literatura de gênero. Você vai sair de lá frustrado (acredite em mim!)

O melhor é ir a lugares que entendam e respeitem a sua escolha de gêneros. Se você mora em São Paulo, o negócio está excelente!

A editora Terracota mantem o Espaço Terracota, que está com inscrições abertas para três cursos.

Um é a pós lato sensu em Criação Literária. Por mais que você possa torcer o nariz para isso, lá fora a escrita criativa é tratada dentro da Academia. Aqui, o curso da Terracota começa a se firmar como uma das melhores alternativas para quem quer realmente seguir este caminho (e se você ainda não se graduou, o curso também é oferecido como curso de extensão). O quadro de professores inclui Nelson de Oliveira e Marcelino Freire e o programa do curso abrange desde a criação literária em blogs até a escrita de romances. Veja mais aqui.

O curso do meu querido Sergio Pereira Couto é sobre um assunto que faz falta a muitos autores brasileiros. Sergio vai falar sobre a pesquisa literária, fundamental para quem quer escrever sobre QUALQUER assunto. As pessoas tem o hábito de pensar que se vai escrever sobre o cotidiano, a pesquisa é desnecessária. Aí, sai um monte de abobrinhas. O Sergio tem cacife para falar do assunto, tendo escrito 35 livros, entre eles romances com um profundo teor histórico. Informações aqui.

E mestre Fábio Fernandes me faz almadiçoar a falta de teletransporte. No seu curso sobre a história da literatura de Ficção Científica, a relação de autores e temas é de dar água na boca:

“cyberpunk – steampunk – space opera – new space opera – new weird – new wave – E.E.”Doc” Smith – Edmond Hamilton – Leigh Brackett – Philip Nowlan – Alex Raymond – Hugo Gernsback – John Campbell – Isaac Asimov – Robert A. Heinlein – Arthur C. Clarke – Frederik Pohl – Hal Clement – Cordwainer Smith – Chad Oliver – Frederic Brown – Poul Anderson – Dan Simmons – Frank Herbert – Iain M. Banks – Samuel Delany – Larry Niven – Octavia Butler – Gene Wolfe – Joanna Russ – John Brunner – Ursula K. LeGuin – Jay Lake – Pat Cadigan – Jeff VanderMeer – William Gibson – China Miéville – Bruce Sterling – Kage Baker – Rudy Rucker – Nancy Kress – John Shirley – M. John Harrison – Greg Bear – Charles Stross – John Varley – Cory Doctorow – Gregory Benford – Neal Stephenson – Carl Sagan – John Meaney – Jack McDevitt – David Marusek – Roger Zelazny – Adam Troy-Castro – Philip K. Dick – Paolo Bacigalupi – Theodore Sturgeon – Robert J.Sawyer – Alfred Bester – Cherie Priest – Joe Haldeman – David Louis Edelman”

(Sim, boa parte desses autores não saiu no Brasil. Se isso é um problema, talvez seu primeiro investimento deva ser um curso de inglês)

Se o Lula me pagasse um salário digno, até dava para tentar ir a São Paulo uma vez por semana durante seis semanas. Como não é o caso, fico aqui, morrendo de inveja dos paulistas. Se você é de Sampa ou é um afortunado que pode bancar o vai-vem, as inscrições são aqui.

No Rio, tem o curso de Eduardo Spohr, autor de ‘A batalha do apocalipse’, fenômeno de vendas, sobre a Jornada do Herói no Cinema e na Literatura. Vale a pena, mesmo que vocÊ não queira usar a jornada em seus escritos. Fica mais fácil sabendo o que evitar. Inscreva-se aqui.

Porém, se você não mora nem no Rio nem em São Paulo, não desanime. Centros e espaços culturais, além de faculdades, costumam dar cursos livros e de extensão sobre o assunto. Fique de olho nos suplementos literários e nos blogs culturais da sua região.

Stay tunned!

26 comentários em “Cartas aos jovens – Inve$$$tir na carreira de escritor”

  1. Muito boas as dicas, Ana. Infelizmente para mim, mesmo morando em São Paulo, ainda não posso investir nisso, mas agora que fiquei sabendo do espaço terracota, com certeza vou ficar de olho e assim que surgir a oportunidade não deixarei que passe em branco.

    1. Fica de olho mesmo. Agora em agosto vai ter a Fantasticon, e o Sergio vai dar uma versão ‘pocket’ da Oficina dele. Aparece lá!

  2. Muito obrigado, Cris! Vc acabou de salvar meus futuros 200, 300 reais, pois começava a cogitar a possibilidade de participar de uma dessas coletâneas(não por egotrip, acredite, rs), mas pensando que talvez fosse mesmo algum tipo de investimento (levando em consideração o comentário de um amigo que tem um ótimo livro autopublicado e participou de uma dúzia dessas antologias). A poupança pra minha casa própria agradece também.

    Sei que é algo que ainda tá engatinhando, mas essas oficinas literárias seriam algo que se encaixariam muito bem no ensino à distância (que eu sonho em concluir meu curso de Comunicação Social dessa forma, mas não há nenhum por aqui T_T).

    E falando em ensino à distância e de pesquisas, dou como sugestão de alguns cursinhos por internet que andei fazendo sobre determinados assuntos. Alguns, ministrados por instituições ou ongs, são até gratuitos. O interessado se inscreve e conforme vai avançando nos módulos, apostilas vão sendo liberadas para downloads, depois de uma provinha ou redação, o que pedirem para comprovar que o aluno estudou mesmo o módulo. É uma forma de se ter um bom conhecimento básico de algum assunto e depois partir pras pesquisas mais profundas, sabendo do que tá indo atrás.

    Pode parecer doideira, mas atualmente faço um curso básico sobre Umbanda, num centro espírita, para aprender um pouco mais dos preceitos e da Mitologia Yoruba, pois um dos meus (milhares de) projetos (nunca conclusos TT_TT) roda entorno desse universo.

    Então, é só uma dica. Se alguém quer escrever sobre o Saci, por exemplo, que tal procurar em centros culturais um curso sobre folclore? É por aí.

    E uma pergunta: cursos mais simples, como “oficina de redação” também seria válido? Pois, acredito, que esse seja mais fácil para se encontrar. Escolas e faculdades costumam oferecer coisas do tipo.

    Valew os esclarecimentos, moça! Bjão procê e pros gatos e passarinhos XD

    1. Boas dicas, Rebis. O EAD é uma realidade ainda meio impalpável, mas aos poucos vai se firmando. Quem sabe nos próximos dois anos não surge uma alternativa? Fica a sugestão, até mesmo pro Fábio Fernandes que é um cyberman. 🙂

      Oficinas de redação e cursos de escrita criativa ajudam se você souber exatamente o que esperar: técnicas até meio obvias para quem já escreve faz um tempinho. Mas como prática, são super válidos.

      Beijos!

  3. Excelente post, Ana!
    E bem lembrado o aviso sobre cursos com escritor premiado mas preconceituoso com a literatura de gênero: tive uma amiga que já foi humilhada por um desses escritores ao apresentar um texto de fantasia.

    1. Olha, você tem duas. Humilhada eu não fui, mas tive que escutar aquela velha ladainha de ‘escritor de FC não se importa com a forma’. O trecho foi o do minotauro que apresentei aqui. O escritor queria que eu inventasse palavras novas!

  4. Ana, cada vez mais acredito que desde que começamos a conversar sobre magia e afins, você tem estudado secretamente alquimia, e com muito sucesso.

    Conseguir transformar a merda (a cagalhogia seguida de pergunta [que ferem os olhos]) em ouro (um post útil e bem feito) é um feito digno dos mais grandes alquimistas. Se não pelo trabalho colossal de encontrar ali algo a dar atenção, então pelo de ter tamanha paciência com uma criaTROLLra assim.

    A favor duplo do seu post, confirmo que pagar para publicar é egotrip. Fiz a experiência, com um único objetivo, saciar minha curiosidade (egotrip).

    Enfim, ótimo post!

  5. Esqueci de comentar que para mim também é difícil. Por enquanto, não tenho dinheiro para ir ao Rio (São Paulo nem se fala, não é?) toda semana para um curso. Aliás, nem para o curso, nem para a passagem. E olha que sou de Petrópolis, que nem é tão longe assim
    De qualquer forma, é algo em que eu vou investir no futuro, quando já tiver (espero eu) uma renda descente.
    Aliás, não tem nem como eu ir à Fantasticon. É muito dinheiro para ir a São Paulo, cara! Eu gostaria de conhecer o pessoal com que converso na internet, mas por enquanto é difícil, mesmo.

    1. Matheus, na fase da vida que você está é assim mesmo, tudo é caro, longe e complicado. Não tem jeito. A saída é ter paciência – para juntar o dinheiro fazendo pequenos sacrificios ou mesmo para esperar a vida se estabilizar para poder investir no que você realmente quer. O segredo é não desanimar: eu só pude começar a investir na carreira de escritora agora, quando entrei para a BN e consegui um emprego seguro.

  6. Oi Ana,

    Comecei meu investimento acadêmico em literatura com o Gabriel Perissé. Abandonei e peguei o final da pós com a primeira turma da Terracota. Vou terminá-la agora, junto com a segunda turma que começa essa semana.

    Não é de hoje que eu elogio e recomendo o curso do Nelson. Um investimento de alto padrão, feito com muita garra pelos coordenadores e ministrados por verdadeiros mestres que realmente respeitam nossa escolha de gênero. Vale o esforço e a grana.

    1. Oi, Bruno

      Pois é. Como já disse prum pessoal que veio me perguntar em pvt: os cursos são indispensáveis? Não, mas ajudam MUITO. E valem muito mais a pena como investimento do que pagar para ter seu texto – seja livro ou conto – publicado em edições de qualidade suspeita!

  7. Muito boa a postagem. Achiei interessante assistir seminários e oficinas literárias, coisa que nunca fiz. Acho que vou incluir isso o mais rápido possível em meus “investimentos”.

  8. naum akrditu k vc eh contra publikar por cnta propia!!

    Brincadeira, adorei o texto. É bom pro pessoal saber mais ou menos quais os caminhos que têm mais chance de dar certo e quais têm mais chance de dar errado.

    Vale lembrar que o Spohr não publicou ABdA por conta logo de cara… ele venceu um concurso literário e ganhou 1000 cópias do livro como prêmio… e tinha uma máquina gigante de divulgação por trás, vale lembrar. QI também é importante.

  9. Ana, eu recebi de dois clientes meus 50% do patrocínio para publicar um livro que estou escrevendo de ficção (não ficção científica, neste caso). Vou pagar 50%, mas agora você me assustou. Será que devo levar o projeto adiante ou continuar sendo um simples empresário no ramo de informática e esquecer de ser escritor? Bom, meu pai bancou seu primeiro livro sozinho (de poesias) em 1980, chamado “Sob o Signo de Eros”, vendeu todos os 400 exemplares e hoje tem 39 livros publicados (o mais vendido deles é “O Que é Positivismo”, seu nome é João Ribeiro Jr.). Ele me disse para bancar o primeiro. E agora? Estou no mato sem cachorro… Quem poderia ler meus textos e dizer se sou bom o bastante para publicar (e vender) meus livros??? P.S. meu pai ganha uma merreca de direitos autorais…

    1. Vitor,

      Antes de mais nada, sem drama. 🙂

      Essa de “continuar sendo um simples empresário no ramo de informática e esquecer de ser escritor” não está com nada. Primeiro, porque você não vai conseguir se sustentar – pelo menos não a principio – com a sua escrita. Segundo, porque é uma péssima atitude. 🙂

      Assim, seu pai até pode ser uma exceção – se bem que você mesmo disse que ele ganha uma merreca, porém publicar um livro nos anos 80 e agora é algo bem diferente. Até porque naquela epoca, não havia a facilidade de comunicação que temos agora.

      Bancar seu primeiro livro envolve muitos riscos. O maior deles é o de não vender nada e ficar com um grande encalhe em casa. Você já procurou editoras? Já colocou seu livro na mão de leitores críticos competentes? Enfim, você já buscou outras alternativas?

      No mundo em que a impressão por demanda está disponível, cada vez acho menos aconselhável a auto-publicação.

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